quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

LANCE



Dibujo Mulher com tambor pintado por Africana





lance:
estado absolutamente poético.
por uma nova visão:
dedos desgrudados
barguilhas abertas.
veja.
experimente:
dados pro ar
experimente soltar-se
experimente aquilo que você ainda
não sabe o que é
nem o gosto que tem.
experimente.
a aventura da descoberta é uma quente.
música do planeta terra:
o som dos lugares,
swings,
tribos,
batuques elétricos,
alegria,
dança e prazer
criação do novo mundo
do novo ser
do novo homem.
sementes
faróis luminosos sobre a face do planeta.
                                       
                                                Jorge Salomão


*Texto publicado na revista Música do Planeta Terra, 1976.




Jorge Dias Salomão  3/11/1946 Jequié, BA Poeta. Compositor. Diretor de teatro. Irmão de Waly Salomão. 
Estudou Ciências Sociais e Filosofia em Salvador, e ainda Teatro (direção), com Luiz Carlos Maciel, na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

CHRISTMAS TIME




Band Aid,Do They Know It's Christmas? - Original & Best!,UK,Deleted,12


                                                                  



O ano era o de 1984 e Bob Geldof, então líder do grupo punk The Boomtown Rats assistindo a um documetário na BBC sobre a devastação e fome na Etiópia, uma das nações africanas mais pobres à época, vinda de terríveis e sucessivas guerras internas teve a ideia de reunir músicos famosos, antigos e novos, para criar algo que chamasse à atenção da mídia e consequentemente pudesse arrecadar alimentos e dinheiro em pról daquele povo faminto.Imediatamente chamou o seu amigo Midge Ure, líder do moderno grupo Ultravox e começaram a esboçar o projeto. Depois de pensar decidiram que lançando uma canção reunindo diversos idolos seria uma maneira rápida e prática na tentativa de seus objetivos.
Canção pronta contataram o produtor Trevor Horn, "instant darling" da mídia e músicos naquele momento, verdadeiro mago dos estúdios que aceitou a empreitada. Convites feitos aos músicos, agendas acertadas e uma enorme trupe de baluartes do pop, apelidada de "Band Aid", entram em estúdio no dia 25 de novembro de 1984 e gravam em um só dia o que viria a se tornar um fenômeno de vendas e execuções em rádios, a linda "Do They Know It's Christmas?". Lançada em 15 de dezembro, nos formatos single de 7¨ e 12¨, alcançou o 1º lugar no Reino Unido daquele mesmo dia de dezembro vendendo 3.000.000 de cópias e duas semanas depois atingindo o 1º lugar nos Estados Unidos. Este single tornou-se o mais vendido da história fonográfica inglesa desbancando "Bohemian Rapsody" do grupo Queen instalado nessa posição desde seu lançamento em novembro de 1975.
Com mensagem simples, mais bem construída, sua letra nos encanta quanto a alertar sobre a dicotomia da fartura das mesas no Natal e a fome que assola povos e nações nos estertores  do planeta Terra. 
O imenso sucesso gerou a fundação de caridade "Band Aid Trust"e a realização em 13 de julho de 1985 do mega concerto "Live Aid"


AC Ribeiro Jr.  



Lyrics



1: It's Christmas time

There's no need to be afraid

At Christmas time

We let in light and we banish shade

And in our world of plenty
We can spread a smile of joy
Throw your arms around the world
At Christmas time

2: But say a prayer
Pray for the other ones
At Christmas time it's hard
But when you're having fun
There's a world outside your window
And it's a world of dread and fear
Where the only water flowing
Is the bitter sting of tears
And the Christmas bells that ring
There are the clanging chimes of doom
Well tonight thank God it's them instead of you

Feed the world
Let them know it's Christmas time
Feed the world
Do they know it's Christmas time at all?

3: And there won't be snow in Africa
This Christmas time
The greatest gift they'll get this year is life
Where nothing ever grows
No rain nor rivers flow
Do they know it's Christmas time at all?

Feed the world
Let them know it's Christmas time
Feed the world
Let them know it's Christmas time again

BRIDGE:
(Here's to you) raise a glass for everyone
(Here's to them) underneath that burning sun
Do they know it's Christmas time at all?

END: Feed the world
Let them know it's Christmas time

END: (repeat & fade)

   







sábado, 11 de dezembro de 2010

O RAIO DE XANGÔ










Em cada ilha, em cada lugar de montanhas, cerrado e chapadão onde o negro trabalhou suando a terra, brotou de novo a semente do raio de Xangô. Assim nasceram o mambo, a rumba, a cumbia, o rock, o reggae, o blues, o samba, o jazz, o candomblé. O maracatu mais a explosão da contracultura da década de 60. Isto é soul. Soul é uma brasa, mora. E como brasa esquentou todas as comunidades negras around the world.


Júlio Barroso.


Fragmento de texto da revista Música do Planeta Terra, 1976.





quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

JOHN DONNE "ELEGIA: INDO PARA O LEITO"

                                     
                                       JOHN DONNE               
                                         (1572 - 1631)                                            


      


Poeta inglês, nascido em Londres, de formação católica e posteriormente anglicana, John Donne viveu e representou em seu estilo o maneirismo vigente à época-ponte entre a extinta renascença e a nova ortodoxia na forma do barroco-utilizando-se em suas obras-poesias e poemas-teatralidade, movimento, linguagem coloquial e direta cheia de ironia, trocadilho, paradoxo, sensualidade, de predominância de palavras monossilábicas, poucos adjetivos, de métrica não convencional e qualidades sonoras (rimas, assonâncias, aliterações).
Quando vivo sua obra circulou apenas em manuscritos fazendo um relativo sucesso, e vindos a se tornarem públicos em 1633, dois anos após a sua morte.
Após esse período por quase 300 anos a obra de John Donne só foi reeditada em 1912 graças ao trabalho de H. J. C. Grierson e indubitavelmente  pelo interesse do grande poeta T. S. Eliot, se dizendo fascinado e influenciado por seu estilo.
No Brasil, nos anos 70, o poeta concretista, escritor e ensaísta Augusto de Campos nos brindou com a obra de Donne ao se dedicar a traduzir sua obra de forma moderna e magistral.
Essa tradução inspirou de imediato o músico, cantor e compositor Péricles Cavalcanti-músico de estúdio de Gilberto Gil no início dos 70, compositor de músicas gravadas por Gal Costa em 1974, parceiro de Caetano Veloso na versão de "It's All Over Now, Baby Blue" de Bob Dylan, gravada por Gal Costa em 1977-a musicar um trecho de "Das ELEGIAS" Elegia XIX Indo para a Cama" e apresentar a Caetano Veloso para que o mesmo a incluísse em seu próximo disco, em vias de ser gravado, chamado "Cinema Transcendental".Essa gravação em um disco o qual tornou-se muito executado nas rádios AMs e FMs na época fez com que muitos fãs de Caetano Veloso e de boa poesia descobrissem a arte de John Donne.
Eu fui um desses à época que ficou extasiado com a poesia de John Donne, lhe conferindo o título de autor, na literatura, da "mais linda homenagem jamais feita por um homem à mulher amada". 
Cabe agora a vocês lerem o original e a tradução livre feita por Austo de Campos, e ouvir a canção de Péricles Cavalcanti interpretada magistralmente por Caetano Veloso.

AC Ribeiro Jr.
                                                                                                                                                                                      
                    
 

ELEGY: GOING TO BED

Come, Madam, come, all rest my powers defy; 

Until I labour, I in labour lie. 

The foe ofttimes, having the foe in sight, 
Is tired with standing, though he never fight. 
Off with that girdle, like heaven's zone glittering, 
But a far fairer world encompassing. 
Unpin that spangled breast-plate, which you
                                                  [ wear, 
That th' eyes of busy fools may be stopp'd there.
Unlace yourself, for that harmonious chime 
Tells me from you that now it is bed-time. 
Off with that happy busk, which I envy, 
That still can be, and still can stand so nigh. 
Your gown going off such beauteous state
                                                 [ reveals, 
As when from flowery meads th' hill's shadow
                                                 [ steals. 
Off with your wiry coronet, and show 
The hairy diadems which on you do grow. 
Off with your hose and shoes ; then softly tread 
In this love's hallow'd temple, this soft bed. 
In such white robes heaven's angels used to be 
Revealed to men ; thou, angel, bring'st with thee 
A heaven-like Mahomet's paradise ; and though 
Ill spirits walk in white, we easily know 
By this these angels from an evil sprite; 
Those set our hairs, but these our flesh upright.

Licence my roving hands, and let them go 
Before, behind, between, above, below. 
O, my America, my Newfoundland, 
My kingdom, safest when with one man mann'd,
My mine of precious stones, my empery; 
How am I blest in thus discovering thee ! 
To enter in these bonds, is to be free ; 
Then, where my hand is set, my soul shall be. 
Full nakedness ! All joys are due to thee; 
As souls unbodied, bodies unclothed must be 
To taste whole joys. Gems which you women use 
Are like Atlanta's ball cast in men's views ; 
That, when a fool's eye lighteth on a gem, 
His earthly soul might court that, not them. 
Like pictures, or like books' gay coverings made 
For laymen, are all women thus array'd. 
Themselves are only mystic books, which we 
—Whom their imputed grace will dignify —
Must see reveal'd. Then, since that I may know, 
As liberally as to thy midwife show 
Thyself; cast all, yea, this white linen hence; 
There is no penance due to innocence : 
To teach thee, I am naked first; why then, 
What needst thou have more covering than a
                                                       [ man?



ELEGIA: INDO PARA O LEITO

Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;

Até que eu lute, em luta o corpo jaz.

Como o inimigo diante do inimigo,

Canso-me de esperar se nunca brigo.

Solta esse cinto sideral que vela,

Céu cintilante, uma área ainda mais bela.

Desata esse corpete constelado,

Feito para deter o olhar ousado.

Entrega-te ao torpor que se derrama

De ti a mim, dizendo: hora da cama.

Tira o espartilho, quero descoberto

O que ele guarda, quieto, tão de perto.

O corpo que de tuas saias sai

É um campo em flor quando a sombra se esvai.

Arranca essa grinalda armada e deixa

Que cresça o diadema da madeixa.

Tira os sapatos e entra sem receio

Nesse templo de amor que é o nosso leito.

Os anjos mostram-se num branco véu

Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu

De Maomé. E se no branco têm contigo

Semelhança os espíritos, distingo:

O que o meu anjo branco põe não é

O cabelo mas sim a carne em pé.

Deixa que a minha mão errante adentre 

Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre. 

Minha América! Minha terra à vista, 

Reino de paz, se um homem só a conquista, 

Minha mina preciosa, meu Império,

Feliz de quem penetre o teu mistério! 

Liberto-me ficando teu escravo; 

Onde cai minha mão, meu selo gravo.

Nudez total! Todo o prazer provém 

De um corpo (como a alma sem corpo) sem 

Vestes. As jóias que a mulher ostenta 

São como as bolas de ouro de Atalanta: 

O olho do tolo que uma gema inflama 

Ilude-se com ela e perde a dama. 

Como encadernação vistosa, feita 

Para iletrados, a mulher se enfeita; 

Mas ela é um livro místico e somente 

A alguns (a que tal graça se consente) 

É dado lê-la. Eu sou um que sabe; 

Como se diante da parteira, abre-

Te: atira, sim, o linho branco fora, 

Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes: 


A coberta de um homem te é bastante.

Tradução: Augusto de Campos